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Demasiado grande para falhar

1/2/2017

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Estou farto de grandes! Sempre que alguém enche a boca de vaidade e me fala de “uma grande empresa”, “um grande clube” ou mesmo do “grande Estado”, a minha boca enche-se de vómito. Desde quando tamanho é apenas uma qualidade?
Bom, pode argumentar-se que o povo diz “demasiado grande para falhar”. O mesmo povo que diz “quem não arrisca não petisca” e “mais vale um pássaro na mão que dois a voar”. Por isso, não confio cegamente na voz popular. Se o fizéssemos todos, ainda vivíamos na idade da Terra plana.
Falemos então de teoria. A teoria do “demasiado grande para falhar” assenta no pressuposto que o dano de uma falha seja de tal forma enorme que a falha seja inaceitável.
Todos vimos ao que nos levou a falha do sistema financeiro global, que continuaremos a pagar por muitos anos que hão-de vir. Se tudo isso fosse um filme, então o título seria apropriado. Mas não, na realidade, o título mais correcto para a teoria deveria ser “quando poucos falham, muitos pagam”.
Na Matemática, todos os números são tratados da mesma forma e um sinal negativo faz com que o enorme se torne minúsculo. Já na Física grandeza implica lentidão. Demasiado grande torna-se então sinónimo de demasiado lento, demasiado arriscado ou mesmo demasiado inútil.
Estamos fartos do demasiado grande. Estamos fartos de ser minúsculos perante a aparente superpotência dos grandes. Mas podemos fazer alguma coisa?
Podemos trocar uma grande empresa por uma empresa menor.
Podemos telefonar, ainda que seja para o “call center” que começa por nos informar que a chamada vai ser gravada por motivos de qualidade. Adoro quando telefono e a primeira coisa que fazem é dizer-me que me vão gravar. Adoração só superada pela mensagem no telemóvel que diz que o cliente para o qual estou a ligar agora pertence a outra empresa.
Podemos pedir que não nos perguntem sempre o nosso número, temos um nome para alguma coisa. Podemos pedir que nos tratem como indivíduos e não como parte de um estereótipo. Podemos perguntar e esperamos que nos expliquem mais do que o habitual “é o sistema”. Podemos lembrar que ainda somos nós que pagamos, mesmo quando até não o fizemos porque estamos a ser absolutamente escravizados pelo fornecedor. Podemos pedir que comecem a carta com um “queira desculpar se já procedeu ao pagamento” em vez de começar pelo “a quantia abaixo encontra-se por pagar”.
Podemos pedir o que nos prometeram antes que nos peçam o que prometemos de volta.
Digo podemos porque acredito que no nosso cantinho os monopólios já acabaram. Sei que estou a ser optimista, que isso não é verdade. Alguns monopólios perpetuam-se para que os mesmos possam usufruir das suas mordomias. Eles ainda não sabem. Mas eu sei que o fim se aproxima.
Demasiado grande para falhar? Esperem por mim. Esperem por nós! 
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Por favor, VÃO aos Passadiços do Paiva

23/8/2015

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Nota prévia: (actualização de 31 de Janeiro de 2017)
a versão original publicada na íntegra abaixo, incluindo o título original “Por favor, NÃO VÃO aos Passadiços do Paiva”, foi um exercício de ironia que parte dos que se sentiram visados não entendeu. Em resumo e sem ironia:
- um parque natural não é uma feira
- o sucesso não está necessariamente ligado à quantidade
- nem todos têm o direito de ir onde quiserem, quando quiserem, como quiserem: a liberdade de uns termina quando começa a dos restantes
Entretanto, correcções foram introduzidas aos Passadiços. Bem como obras para recuperar os danos de dois incêndios. Por isso, não só é óbvio que vale a pena lá ir como é óbvio que temos muito que fazer para manter ainda mais o património natural.
Que o betão, o plástico e os foguetes, esses há sempre quem financie.

Se você é um perfeito idiota, este texto não é para si. Nesse caso, fique-se pelo título e siga o meu conselho, não vale a pena ir aos Passadiços do Paiva. Se por caso for, não se esqueça de publicar as suas fotos com o hashtag #passadicosdopaiva

Peço desculpa se escrevo este texto ainda na ressaca de ter regressado de uma visita aos Passadiços do Paiva promovida pelos fantásticos técnicos do Arouca Geo Park. Mas a urgência do tema justifica os termos com que o apresento e a necessidade de o ler na totalidade.

Um colossal erro de Marketing

Começo por dizer que é um dos mais colossais erros de Marketing dos últimos tempos. E tenho muita pena de o dizer mas a Câmara Municipal de Arouca é responsável pelo erro e por todas as suas consequências. Imaginem que o que se pretendia seria lançar um novo produto, mas que após o lançamento o produto esgota e a capacidade de o entregar aos interessados é milhares de vezes inferior. Imaginem que se pretendia organizar um jogo de futebol e se permitia a venda de dez vezes mais bilhetes que a capacidade do estádio. O prejuízo desse desastre seria da responsabilidade de quem? Não há desculpa! Se o sucesso do produto é muito maior que o previsto, o erro é tão grave quanto se tivesse acontecido o inverso.

Mas afinal o que são os Passadiços do Paiva?

Bom, verdade seja dita, lendo o site da atração turística (o local é assim classificado no Google e parece-me correto), tudo parece claro: “Bem vindo ao paraíso natural, Arouca, Portugal!”, “Parta à descoberta, a natureza espera por si” e “Preparado? A aventura começa aqui!” parecem ser suficientemente claros para o potencial visitante. Mas vou ser um pouco mais exaustivo e partilhar a descrição completa: “São 8 km que proporcionam um passeio intocado, rodeado de paisagens de beleza ímpar, num autêntico santuário natural, junto a descidas de águas bravas, cristais de quartzo e espécies em extinção na Europa. O percurso estende-se entre as praias fluviais do Areinho e de Espiunca, encontrando-se, entre as duas, a praia do Vau. Uma viagem pela biologia, geologia e arqueologia que ficará, com certeza, no coração, na alma e na mente de qualquer apaixonado pela natureza.” Penso que está tudo dito.

Mas depois chega o Facebook e descamba!

Que merda é essa de natureza?

A natureza é o que o sustenta, seu animal. Você é um animal, a maior parte das vezes racional, a espécie dominante no planeta Terra. Podia explicar aqui o que é um planeta mas quero manter o texto compreensível para a maioria.

Como você, seu animal, há cerca de 9 milhões de espécies de animais no mundo. E não me estou a referir ao seu cão, ao cão da vizinha ou a todos os outros cães, esses são todos uma única espécie. Para além dos animais, há que considerar ainda 400 milhões de espécies de plantas. E não me estou a referir às diferentes folhas de couve do caldo verde. E ainda todo o reino mineral. Isso é a natureza, seu animal.

E onde pode encontrar a natureza?

Bem, essa é a parte fácil. A natureza está em todo o lado, começando nos milhões de bactérias que crescem nas suas unhas e que são responsáveis por uma parte das suas próprias doenças. Por isso, da próxima vez que se preocupar com as suas unhas de gel, lembre-se de lavar as mãos com frequência e deixar de ser uma fonte de contaminação ambulante para si e para quem o rodeia.

Como deve observar a natureza?

Bem, não basta abrir os olhos. Esta parte é muito importante: é mesmo necessário usar os miolos. Os miolos são umas cenas que o people tem dentro da mona e que são mega fixes. Tal como a natureza, os miolos não são facilmente visíveis, mas há imensa gente que acredita na sua existência. Usando os miolos, o mundo é muito mais interessante. O guna de boné virado nem sonha qual é a sua insignificância neste mundo e como um golfinho tem efetivamente mais inteligência que ele (não é uma metáfora). Mas volto já a este tema.

E então isso quer dizer que NÃO DEVE IR aos Passadiços do Paiva?

Sim, NÃO DEVE IR aos Passadiços do Paiva. Os Passadiços do Paiva são uma cena em madeira que nem verniz tem, mega chunga, muito pior que o piso do Shopping. Gastaram milhões em madeira e cenas e nem um único ar condicionado. Dah-ah! São estreitos, mal dá para passar duas pessoas lado a lado sem se roçarem. São demasiado longos e durante quilómetros não há onde o people se sentar e muito menos beber uma geladinha. Não se ouve nada! Vê-se os peixes no rio mas são pequenos que as taínhas da ribeira! Só os outros gunas e só se estiverem próximos! Há bichos e terra e as Nikes ficam todas f… Não se pode fumar, não se pode sair do passadiço, não há onde cagar!

Mas então, não vou voltar?

Mas claro que sim, VOU VOLTAR aos Passadiços do Paiva. Estou a pensar voltar logo que eles sejam reabertos ao público. Ainda não estão encerrados, mas tenho esperança que a Câmara Municipal os encerre muito em breve, pelo menos em 6km do total de 8 km de extensão, deixando apenas 500 metros abertos em cada entrada. Isso deve manter afastados os gunas e as suas mascotes de tetas espremidas e peidas empinadas. Os mesmos que acham mal não se poder fumar no percurso e o fazem às escondidas, e no final lançam o maço vazio no chão. Com sorte, apagam a beata entre as nádegas e não provocam um incêndio. E os pretensos atletas com peso excessivo e camisolas fluorescentes tipo “eu estou aqui, reparem em mim”. E os pançudos e as suas lancheiras de piquenique que alimentavam uma alcateia. Que levam o que lhes apetece, a que depois chamam lixo, e acham mal não haver caixotes. E essa espécie de surdo-crónico que ouve música (ou algo semelhante) como se tivesse esquecido as pilhas do aparelho, que não percebe que é possível que alguém não queira ouvir o mesmo ruído que eles. E os banhistas (ah os banhistas!), tipo que está muito calor e o melhor que há é fazer bombas no Rio Paiva, o mesmo rio que alimenta espécies ameaçadas (o que é isso?). E os donos de cães que acham que devem ser tratados como pessoas e, já agora, tão imbecis como os próprios donos que os levam a tomar banho no rio. Entre muitos outros animais, aqui, claramente fora do seu habitat. Tal como o eucalipto, são espécies invasoras que se caracterizam por impedir o desenvolvimento (e mesmo extinguir) as espécies autóctones.

Voltarei aos Passadiços do Paiva. Serei um invasor cuidadoso. Para poder parar minutos a ouvir o silêncio do Paiva interrompido por um chilrear que me esforço por identificar. Ou o ruído dos seus rápidos entre os xistos e os granitos que nunca se repetem. Ou a perfeição das marmitas de gigante que é impossível serem naturais. Ou o colapso robusto das falhas geológicas. Ou o bater das asas de uma borboleta do tamanho de um pardal. Ou a perfeição microscópica de um casulo de vespa. Ou a elegância de um voo de águia. E tudo aquilo que se pode admirar mesmo quando não se percebe na totalidade.

Se lá forem, por favor, cuidem das espécies nativas e protejam-nas dos invasores. E peçam que  publiquem as suas fotos com o hashtag #passadicosdopaiva para ser mais fácil pesquisarmos e partilharmos com as autoridades.

Notas finais

Sem ironia, o projeto é fantástico. Tivesse sido eu o seu autor, gastava mais dinheiro público a vedar as mesmas entradas construídas, de forma a que todos percebam que há uma diferença entre uma área natural protegida e o calçadão da novela. Eventualmente, cobrando entradas: o bolso parece ser um bom regulador da inteligência. E construindo um ou dois parques de estacionamento (os automóveis são inevitáveis). Mas não deixa de ser fantástico. Irresponsável, incompetente, mas fantástico. Acredito que a Câmara Municipal já tenha ultrapassado o choque mas tenho dúvidas sobre ter ultrapassado a fase de negação…

Todas as imagens são verdadeiras. Não exerci qualquer liberdade poética na escrita. Esta foi mesmo a triste realidade. Não acho que um idiota que acha que o Color Run pode ser realizado no interior da Casa da Música perceba o que escrevi, mas conto com a vossa ajuda com partilhas e comentários.


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O paciente, a enfermeira, o médico e a filha do farmacêutico.

5/1/2015

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A enfermeira interroga-se se o paciente entende que tem um problema. A conversa começa com algumas perguntas genéricas e o primeiro diagnóstico toma forma: o problema existe mas parece não ser grave.

Cenário 1. O médico chega e recebe toda a informação recolhida pela enfermeira. Depois de mais algumas perguntas, sugere uma análise complementar de diagnóstico que é executada nas horas seguintes. O diagnóstico é agora claro. O médico explica ao paciente o problema e a solução a adoptar. A enfermeira regressa da farmácia e o tratamento adequado é iniciado de imediato. O paciente regressa à sua vida normal, com cuidados acrescidos que o obrigam a determinados comportamentos diferentes do habitual. A história não é emocionante. O paciente sobrevive. Os canais de televisão perdem audiência.

Cenário alternativo. O paciente está confiante porque o filho de um amigo fez um curso de primeiros socorros e aprendeu a dar injecções. Além disso, a enfermeira começa a agradar-lhe, em mais que um sentido. Provavelmente não é nada, pelo que falar dos sintomas só vai atrair os problemas. A visita do médico nunca chegou a acontecer mas um canal de televisão faz uma nova entrevista para explorar a relação com a enfermeira, que o paciente descobre ser filha do farmacêutico. A história começa a entusiasmar. O paciente está feliz. Um canal de televisão duplica as audiências.

Esta história repete-se em diversas áreas, com personagens diferentes. A gravidade e as consequências são variáveis, mas o resultado no médio prazo é sempre o mesmo: o cenário alternativo, mais tarde ou mais cedo, revela-se um desastre.

Na minha área o cenário alternativo tem sido responsável por anos (uma década?) de desperdício, com as empresas a gastar dinheiro na Web sem conseguirem resultados evidentes. O mercado está saturado de curiosos que propõem soluções com boa aparência e sem nenhuma garantia de resultados. Muitas empresas dão pouco valor à competência e engravidam com frases feitas. Os escassos exemplos de sucesso são ignorados e o folclore continua. Mas suspeito que chegou a hora de médicos, enfermeiros e farmacêuticos conseguirem mostrar que o seu trabalho, a longo prazo, é o único que alguma vez produziu resultados sustentáveis.

Façam perguntas. Sejam saudáveis.


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Deus existe

12/10/2013

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[publicado originalmente em 1 de Outubro de 2008] 
Já o disse seguramente centenas de vezes. Já o disse a todas as minhas turmas de alunos. Já o disse exaustivamente a colegas e amigos. Das mais diversas formas. E continuo a insistir. A Ciência é incapaz de nos deixar provar o que não existe. A Ignorância é incapaz de nos deixar aceitar o que existe.
De uma ou de outra forma, o que nos enriquece é dedicarmos o nosso tempo a descobrir o que não sabíamos existir, procurando novas formas de conseguir os resultados, tentando fazer mais e melhor. O que nos permite enriquecer é não perder tempo a discutir com quem não quer aceitar o que já se demonstrou existir, com quem não quer ver o que outros já viram.
Por isso, é possível que o mundo acabe, que os extra-terrestres existam, que o Euromilhões saia a quem lê este texto. Mas não é possível prová-lo. Mas como Deus (Católico, Muçulmano, Masculino, Feminino, Singular, Plural,...) é a explicação para tudo o que desconhecemos, então Deus é a única prova que a Ciência não tem que exibir.
Não sei bem se isto é uma manifestação agnóstica ou uma demonstração religiosa, mas é seguramente Ciência. Deus existe!

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Maverick, Capítulo Um, Eles

1/8/2013

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[um capítulo para entusiasmar as leituras de férias]

Parte Um, Tempo

Estou aqui parado mais uma vez. Não olho para os lados, posso cruzar os lasers com alguém indesejado. Há qualquer coisa neste lugar que me atrai. Acho que porque não sei bem onde estou. Mas sei que não posso aqui ficar muito tempo. Ainda não me conhecem. Ainda. Já me localizaram duas vezes, mas nunca me apanharam. É uma questão de tempo. E de sorte. Isso só me faz querer voltar mais depressa.

Parte Dois, Bolor

Olhava-o de frente. Talvez um pouco de cima, afinal, alguns centímetros fazem a diferença. Os olhos dele fechavam-se durante segundos, incapazes de conter o nervosismo. Até ser capaz de balbuciar mais uma pergunta. Chegou mesmo a inclinar-se sobre a mesa, confiante que finalmente tinha uma arma na mão. Nem lhe passava pela cabeça que eu poderia ter uma no bolso. Que eu realmente tinha uma no bolso.

Foi apenas um segundo. Talvez tenha pestanejado uma vez mais. Não foi certamente o suor gorduroso que lhe escorria da testa e lhe dava aquele ar de pivot de canal de televisão de bairro, onde nunca se ouviu falar de maquilhagem. Que assentava na perfeição, tal como o fato completo em dia tórrido. E o nó de forca ao pescoço, injurioso cilício que alguns aceitam por conta da falta de competência. Não foi certamente mais que uma décima de segundo. Desviei-me e disparei sem hesitar. Uma e outra vez. Segui com o olhar o sangue quente a pairar enquanto sentia o indicador a percutir semínimas sem hesitação. Os meus tímpanos explodiam com o eco na pequena e miserável sala.

O silêncio saturava o ambiente e tornava-o quase irrespirável. Foi apenas um momento em que o imaginei a atacar e lhe respondi. Estava preparado. Estava motivado. Nunca o tinha desejado, era uma sensação nova. A imaginação entusiasma-se com a novidade. Estava na hora de terminar com o impasse. Saí com a sensação que não me tomou por inimigo. Que é demasiado arrogante para se sentir fraco. Que está obeso de traição e intriga e lerdo de acção e reacção.

O sol radiante do exterior empurrou-me o ar quente para os pulmões. A deslocação de ar provocada pelo passo apressado limpava rapidamente o cheiro a bolor. A míldio. Retirei a arma do bolso e travei-a de novo. Em pleno dia, uma arma na mão, ainda que por momentos, parece um risco menor que o tempo que esteve destravada no bolso. À minha volta tudo parece normal. Mas acho que isso é aceitável para quem decidiu engolir o comprimido vermelho. Nenhum coelho à vista. Tão século XX.

Parte Três, Imagem

A imagem no espelho parece normal. Mais um dia de trabalho. Gostava de perceber como há pessoas que conseguem levantar-se para “apenas mais um dia”. Como é possível? Em “apenas mais um dia” podemos morrer. Em “apenas mais um dia” podemos ficar milionários. Em “apenas mais um dia” podemos viver exactamente mais um dia! “Mais um dia, mais uma viagem” – com o som roufenho do megafone do carrossel.

A imagem no espelho parece normal. Mas afinal é isso que interessa, que não desconfiem quem sou na realidade. Podia ser um milionário excêntrico e anónimo, com uma imagem normal. Podia ser um génio da Internet, com uma imagem normal. Podia ser um assassino, um polícia à paisana, um barbeiro, um médico, um mecânico. Com uma imagem normal. Podia ser o que quisesse, com uma imagem normal. Com uma imagem normal, podia ser o que quisesse. Por trás desta imagem normal, posso ser o que quiser.

A imagem no espelho parece normal. Eles ainda não sabem quem sou.

Parte Quatro, Escuridão

Estamos ofuscados pela inteligência. Eles associam poder e conhecimento, confundindo simbiose com parasitismo. Apontam-nos os seus poderosos holofotes. Por vezes conscientemente, outras vezes já sem o perceberem. E nós perdemos a capacidade de fechar os olhos e pensar.

Preciso de silêncio e escuridão. Consigo sempre ouvir a minha voz. Depois regresso e consigo manter a energia fundamental.

Esta rua quase deserta simboliza o fim-de-semana. Semana. Fim-de-semana. Semana. Fim-de-semana. Chicote. Cenoura. Chicote. Cenoura. Mantém os olhos bem fechados para os teres completamente abertos.

Parte Cinco, Armas de indução maciça

Eles são insolentes. Têm o hábito de nos tratar como dependentes, contribuintes, utentes e outras formas de subserviência. E, mais grave ainda, pensam que têm esse direito. Pensam que o adquiriram com as armas de indução maciça. Com as leis que instituíram para nos explorar em seu próprio benefício. Com a ilusão que o nosso dever é o de contribuir para um sistema que dizem ser a nossa representação. Pois bem, ouçam a minha resposta.

Quero dizê-lo com toda a clareza. Com a certeza que não nasci menor ou maior. Que não vivo para ser pior ou melhor. Quero dizê-lo de forma simples.

Não!

Parte Seis, Confissão

Imagino-me a ser apanhado e interrogado. Perguntam-me quantos matei até hoje. Respondo “nenhum”. E é verdade. Em teoria.

Nasces em Spandau, fazes 16 anos, és recrutado, és um nazi. Nasces em Huambo, fazes 12 anos, és recrutado, és um guerrilheiro. Nasces em Cartum, fazes 8 anos, és recrutado, és um sapador. Nasces em Vila Nova de Foz Côa, fazes 6 anos, és recrutado,…

Onde tu nasces pode decidir quem tu és. Alinhar ou desertar? A diferença é mínima. Afinal, trata-se apenas de ser morto mais tarde ou mais cedo.

Parte Sete, O mito dos heróis

Não estava fácil resistir. Escondi-me. Deixei-os passar, senti-os próximo mas não me manifestei. Afinal, foi uma coisa que aprendi com eles. São dissimulados. Fuinhas. Fingem não perceber, resistem à adversidade, apenas para voltar com mais força. Não são fortes, mas são inteligentes. Não são invencíveis, mas conservam muito bem a energia.

Escondi-me. Apenas porque não era o momento certo para ser derrotado. O preço dos heróis está demasiado inflacionado. Talvez por isso o mercado dessa raça esteja fraco. Pululam os ratos de sacristia, as doninhas da secção e as hienas da assembleia. Faltam os líderes da razão, os comandantes com visão e os soldados com competência. Quem criou o mito dos heróis? Quem os quer ver mortos. Um inimigo infiltrado.

Escondi-me. Mas agora estou de volta. E eles continuam por aí. Mas eu estou mais forte.


[continua]

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Embustes

12/7/2013

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Este monte de dinheiro é provavelmente menor que as perdas das empresas portuguesas com embustes num só dia. O caso não é para menos.
A propósito de embustes, podia começar com a quantidade anormal de pessoas a publicar no Facebook que não autoriza isto e aquilo: sosseguem, brinquem à vontade com o Facebook que não está previsto vir a ser pago. Nem privado, já agora, para que não haja dúvida.
O trabalho esta semana levou-me para alguns temas diversos. E como gostaria eu de escrever já sobre alguns, mas vai ter que ficar para depois. Por hoje fico-me pelas empresas e pelos embustes que as perseguem. Caso ainda tenham dúvidas que precisam de um especialista para analisar e aconselhar sobre a vossa presença na Web.

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Esta é uma carta que provavelmente muitas empresas também receberam. Eu recebo aí uma meia dúzia por ano. Nem sempre provenientes da mesma fonte. No caso destes senhores, propõem-se receber mil cento e vinte euros para fornecer uma "inserção completa com logo, imagens e enlace à vossa página, mais a inserção em CD-ROM e o envio de um exemplar do mesmo". Fantástico! E há quem pague? Claro que sim. Muitas pessoas que não percebem que se trata de algo mais que apenas da actualização de dados da empresa no "Registo empresarial de Portugal", pois as letras pequeninas é que explicam o negócio. Boa ideia da empresa espanhola em questão. De legalidade questionável e ética condenável.


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Este e-mail não é tão comum, mas também anda por aí. Costumam ser mais os africanos ou árabes que precisam muito de nos transferir uns milhões de dólares como compensação só por poderem tirar o dinheiro do país. Mas também andam aí os que nos mandam este aviso importante (traduzido à letra): "Como cortesia para os detentores de domínios, estamos a enviar esta notificação para registar o domínio da sua empresa nos motores de pesquisa. Se não o fizer até à data indicada poderá resultar no cancelamento desta oferta tornando difícil aos seus clientes localizarem-no na Web".
Fantástico! Por apenas $75 por ano. Melhor ainda, $295 por 10 anos! Inacreditável, somente $499 para toda a vida! Para toda a vida? Mesmo?

Queria terminar com uma imagem de outro embuste. Diz que andam aí uns sites interessantes, com umas imagens naturais (ou será ao natural), umas de figuras conhecidas, outras de figuras que se estão a conhecer em profundo detalhe. E diz que alguns desses sites se propagam bem pelos e-mails dos mais distraídos e que quando os visitam... já está! Aparece uma imagem a todo o écran com algo tipo "Polícia de Segurança Pública, o seu computador foi detectado e isto é uma contra ordenação por estar a ver pornografia na Internet". E como é mesmo o que estão a fazer, não é que há quem vá a correr pagar a quantia que lhe permite evitar males maiores? Verídico! Sei onde aconteceu! Infelizmente, não tenho imagem desse écran, mas há quem tenha.
Concluindo, façam-me um favor e antes de pagarem a espanhóis, americanos ou russos que vos andam a perseguir, paguem a um português que vos proteja. E já agora, sejam felizes e parem de distribuir fotos de crianças e animais pretensamente desaparecidos ou abandonados: não se trata só de um embuste mas também da desvalorização do problema real.
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Tempo

1/7/2013

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O tempo perguntou ao tempo quanto tempo o tempo tem. O tempo respondeu ao tempo que o tempo tem tanto tempo quanto tempo o tempo tem.
O tempo é (mesmo) o que tu fazes com ele.
Mas por muitos livros que foram e serão escritos sobre o tema, o tempo de cada um continua a ser largamente invadido pelo tempo dos outros.
Tenho alguma certeza que:
- se aceitar todas as solicitações, acabarei a fazer absolutamente nada do que necessito
- se tudo forem urgências, então alguma coisa vai falhar, pelo que é o mesmo que nada ser urgente e é necessário trabalhar no que é mais importante
- se me relacionar com pessoas que não têm que fazer ao seu tempo, acabarei por deixá-las acabar com o meu
- não existe gestão do tempo, existe o que tu fazes com ele
Entre outras certezas menos reforçadas.
E assim se passou um mês em que praticamente ofereci o meu tempo ao destino. Que desperdício. E no entanto, pensando em tudo o que consegui fazer em apenas um mês, não há lugar para frustração, apenas para uma maior vontade de fazer o que é necessário.

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Parabéns...

29/5/2013

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Hoje é o dia do meu aniversário. E também dia de o Google me lembrar que conquistar clientes é um trabalho árduo, tenaz, persistente e para o longo prazo. Um Doodle especial no dia do meu aniversário é uma demonstração de preocupação comigo que resulta da orientação para os biliões de utilizadores da empresa. É uma pequena coisa, uma das milhares que fazem do Google um grande produto.
Na próxima versão, a imagem poderia ser substituída por uma animação onde o meu nome apareceria dinamicamente. De preferência, partilhável com os amigos.

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A Malta

25/5/2013

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[publicado originalmente em 21 de Junho de 2008]
A Malta acha bem. A Malta acha mal. A Malta gosta. A Malta odeia.
É como cantam os Kaiser Chiefs: "somos a malta irritada, lemos os jornais todos os dias, gostamos de quem gosta e odiamos quem odiamos, mas também somos facilmente influenciáveis" (porque é que soa sempre melhor em inglês?).
Raios partam a Malta. Raios partam a carneirada, os rebanhos de inúteis. Pensem com a vossa cabeça, tenham opinião, discutam (discutir=falar+ouvir). E não se odeiem por isso. E, acima de tudo, não repitam as asneiras que ouvem.
Um cérebro é mesmo uma coisa espectacular: toda a gente devia ter um.
P.S: o golo do Ballack é um escândalo.

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Minuto de dúvida: desenvolvimento económico e desenvolvimento social são temas distintos?

14/5/2013

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[escrito originalmente em 27 de Abril de 2013]
Os (ainda) poucos minutos dedicados às notícias dos canais generalistas deixam-me permanentemente na dúvida. Eu sei que “notícias dos canais generalistas e da comunicação social em geral” se transformou em sinónimo de “sistema de amplificação de interesses políticos e institucionais, suportado na auto sobrevivência, promoção poluta e visão estreita”. Mas mesmo assim deixo-me confundir com o contínuo desfile de palhaços que se entusiasmam ruidosamente com as próprias palavras e, por segundos que sejam, chego a pensar que desenvolvimento económico e desenvolvimento social podem ser temas distintos.
Num dia de trabalho como o de hoje, cruzei-me com um trabalho interessante. Pode até sofrer dos mesmos erros de “excel-ência” que outros estudos muito comentados recentemente. Mas deixa suficiente matéria que pensar. O resultado é mais ou menos o seguinte (quem quiser ler o artigo na íntegra, em inglês, siga para o final deste texto).
O maior desenvolvimento económico está relacionado com:
- liberdade económica (escolha independente, economia aberta, estado reduzido)
- justiça
- democracia
- esperança de vida
- educação
- felicidade
- distribuição equitativa do território
- contribuição para a caridade
- individualismo
- igualdade na riqueza
- re-eleição dos governantes
- popularidade da teoria evolucionista
- aumento da criminalidade contra a propriedade
- despesas com prendas de Natal
- sexo casual
- financiamento da actividade política
- financiamento do Estado através dos impostos
- urbanização
- inovação
- competitividade
- inteligência
- literacia
O menor desenvolvimento económico está relacionado com:
- corrupção
- pobreza
- exploração excessiva dos recursos naturais
- mortalidade infantil
- desemprego
- guerra civil
- fertilidade
- religião
- elevado emprego na agricultura
- tolerância ao risco
O desenvolvimento económico não está directamente relacionado com:
- ambiente (é prejudicado no nível básico e beneficiado no nível avançado)
- crescimento da população mundial (são precisos mais dados e mais precisão para tirar uma conclusão)
- nível dos impostos (não há estudos conclusivos, com tendências claras)
- igualdade perante a lei (parece-me estar directamente relacionados, mas a amostra não me convenceu)
- emissões de CO2 (há vários casos, sendo que na maioria dos países é possível fazer crescer mais a economia que as emissões)
- despesas militares (muita dispersão, demasiadas variáveis)
- despesas do Estado (muita dispersão, precisava de perder umas horas a perceber o resultado de Portugal…)
- despesas sociais (muita dispersão, nenhuma relação)
- sindicalização (demasiada dispersão)
- crescimento da bolsa (evolução aparentemente paralela)
- salários dos políticos (nenhuma relação aparente)
Talvez esteja na hora de renovar os livros da mesinha de cabeceira, não necessariamente lidos por quem os cita, incluindo A Bíblia e O Capital.
Mais vale um texto sério com conteúdo fresco que mil palhaços com anedotas ressessas.
Não tenho a certeza de conseguir parar por aqui…

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